Camila passou horas sentada ao lado do caixão. Não se afastou nem por um instante.
A mãe tentou várias vezes convencê-la a sair, mas a menina recusava-se, firme.
— Quero ficar com o papai — dizia.
Não chorava. Apenas o observava em silêncio, com os olhos imóveis e as mãos pousadas na borda do caixão.
Os visitantes entravam, murmuravam condolências, alguns se emocionavam ao vê-la ali — tão pequena, tão quieta —, mas Camila nada respondia. Dentro do caixão, Julian repousava com sua camisa branca preferida. O rosto pálido, porém sereno, parecia o de alguém que apenas dormia.
A casa da avó estava cheia: uns choravam, outros cochichavam; as crianças corriam pelo jardim, sem entender o peso daquele momento. Mas Camila não se moveu. Desde que chegara, não comeu, não se deitou. Apenas pediu uma cadeira — queria ficar mais perto, poder tocá-lo.
Alguns achavam que a menina estava em choque. A avó, no entanto, disse apenas:
— Deixem-na. Cada um tem o seu jeito de se despedir.

A mãe, exausta, assentiu em silêncio. Os olhos inchados, o rosto cansado, sem forças para discutir. As horas passaram, e a noite caiu. O caixão ainda aguardava o cortejo, mas ninguém ousava insistir. Não era o corpo que os detinha — era a menina.
Camila permaneceu ali, imóvel. Mãos apoiadas na madeira, olhar fixo. Não falava, não chorava, como se esperasse algo que só ela sabia.
Durante a madrugada, ninguém dormiu. Alguns sussurravam na varanda, outros rondavam o corredor, inquietos.
A avó colocou um cobertor sobre os ombros da neta, mas ela continuou ali, cansada e desperta.
O tempo parecia suspenso. Alguém fumava, outro tomava café na cozinha; a mãe dormia sentada, rendida pelo cansaço. Então, em silêncio, Camila subiu na cadeira, apoiou um joelho na borda do caixão e, com gestos lentos e decididos, entrou. Deitou-se sobre o corpo do pai, abraçando-o com força — como se aquele fosse o lugar onde sempre deveria estar.
A tia, ao vê-la, gritou. O pânico espalhou-se pela casa. Todos correram. Pensaram que a menina havia desmaiado. Mas, quando se aproximaram, ficaram imóveis. A mão de Julian estava pousada sobre as costas de Camila. Como se ele também a abraçasse.
Houve um silêncio absoluto. Alguém murmurou que talvez tivessem movido o braço dele sem perceber, mas ninguém acreditou. A mão estava lá — levemente erguida, como viva.
Um homem tentou afastar a menina, mas a avó o deteve:
— Espera. Algo sagrado está acontecendo aqui.
Camila respirava tranquila, como se dormisse nos braços do pai. Aquela mesma mão que um dia a guiara nas caminhadas agora repousava sobre ela com doçura. Não havia medo — apenas ternura.
A tia, que antes gritara, começou a chorar de emoção. A mãe, pálida e trêmula, deu um passo à frente, com os olhos cheios de lágrimas e esperança.
O silêncio tomou conta da casa. Nenhum choro, nenhum sussurro — só o som da respiração leve da menina e o corpo do pai, imóvel, protegendo-a. A luz da lua entrou pela janela, tingindo o quarto com um brilho pálido, quase irreal.
Então, de repente, Camila respirou fundo. A mão do pai escorregou devagar, pousando sobre o peito dela.
Ela abriu os olhos. Olhou ao redor, confusa, como quem desperta de um sonho. Seu olhar encontrou o da mãe — um olhar cheio de desespero e amor.
A avó a ajudou a sair do caixão. Camila correu e se lançou nos braços da mãe, que a acolheu com força.
Nesse abraço, a dor deu lugar a uma paz silenciosa.
— Está tudo bem, mamãe — sussurrou. — O papai está dormindo… mas disse que vai ficar sempre comigo.
E então ela chorou. Chorou por amor, por perda, por despedida. E a mãe, sem soltá-la, chorou junto — até que o ar da casa pareceu ficar mais leve, como se o peso finalmente tivesse ido embora.